Home Cultura

MANTER O HOSPITAL ESPANHOL ABERTO APÓS A PANDEMIA É UM GESTO DE GRANDEZA

Clarindo Silva

Neste 22 de abril, certamente, se não fosse por conta dessa epidemia, o Brasil estaria em festa. Especialmente Porto Seguro, o berço do descobrimento deste jovem senhor de 520 anos.Porém, de certa forma, meu coração está pulsando mais forte pela abertura do Hospital Espanhol, fechado há cinco anos e que, por conta das circunstâncias, resolveram reabrí-lo como hospital de campanha.

Fico imaginando a importância de um equipamento de saúde que tem 135 anos, salvou milhares de vidas, deu luz e vida a mais de 240 mil pessoas e teve a bênção de ter no seu corpo funcional profissionais dos mais renomados, entre eles a Santa Dulce dos Pobres.Sábado passado, dia 18 de abril de 2020, saí da quarentena cercado de todos os cuidados (máscara, álcool em gel e até luvas). Não resisti e fui dar uma olhada no nosso querido Hospital Espanhol.

A sua encosta limpa e os prédios pareciam sorrir e abraçar o mar, com suas ondas ousadas a lamber as areias brancas. Meu espírito sorriu e chorou ao mesmo tempo. Algo me dizia o que foi já foi dito e repetido por milhares de pensadores: “Sonho que se sonha junto é realidade”. No mês de julho passado, quando tocado pelo Divino Espírito Santo, num dado momento senti de maneira muito forte uma sensação de pertencimento.

Mas não tão somente um pertencimento meu, mas de toda essa cidade, de todo esse estado e, por que não, de todo esse país.Como escrevi no artigo anterior, resolvi ir à luta buscando aliados. O primeiro momento foi de pesquisa e, depois, de por a mão na massa. Nas conversas com amigos, autoridades, alguns torciam o nariz, outros davam risada de canto de boca, alguns diziam que já haviam derramado lágrimas suficientes por aquele espaço.

Eu pedi para que enxugassem as lágrimas viessem para a luta, pois seríamos vencedores.Em São Paulo, num show inesquecível de Riachão e Martinho da Vila no SESC Pompéia, onde o cenário reproduzia a Cantina da Lua, produzido pelo cantor, compositor, produtor e meu amigo Paulinho Timor, pude falar da angústia do fechamento do hospital. Minha posição repercutiu no mundo através de artigos escritos por Fernando Coelho, naquele momento em Nova York e também de Levi Vasconcelos, em sua coluna, das jornalistas Amália Casaes e Dóris Pinheiro. Que primor de trabalho de apoio.

Às vezes, quando escrevo um artigo, me abstenho de citar nomes para não cometer a falha de omití-los por esquecimento. Mas esta luta é tão grandiosa que não posso deixar de citar o jovem poeta e radialista James Martins, da Rádio Metrópole, que, em menos de 30 dias, abriu espaço para duas entrevistas com ele e os âncoras do programa, meu mestre a amigo Mário Kértezs, Flor de Cla, que pesquisou sobre a história do hospital, minha comadre Valda Soriano e família, Badá e as entrevistas na Rádio Excelsior, Silas me ajudando nas colagens, Fernando Araújo na produção das faixas, Andréa nas madrugadas fazendo colagens, meu filhos Cléodo e Clériston apoiando a minha esposa, que também reclamava das minhas noites mal dormidas, Cláudia, Cléa, Cecília afirmando que não me canso de procurar desafios.

Apenas digo que a vida é feita de grandes desafios.As duas audiências públicas na Câmara de Vereadores, solicitadas pelos Vereadores Odisvaldo Vigas e Aladilce, deram também visibilidade à nossa luta, que tinha buscado também como aliados Adelzon Alves, Júlio César de Assis, Sílvio Mendes, Carlinhos Brown, Zezé Motta, Riachão, que partiu para o andar superior mas torce por nossa luta, além de matérias na imprensa falada, televisada e escrita, inclusive com uma matéria de página na edição de 10 de dezembro de 20119 do jornal A Tarde.

Quero encerrar fazendo um agradecimento a Deus pela abertura do nosso querido Hospital Espanhol e fazendo um apelo patético às autoridades do nosso estado, da nossa cidade e aos espanhóis e seus descendentes, Consulado Espanhol, Embaixada da Espanha no Brasil e ao governo espanhol que nos unamos, como estamos unidos neste momento, para mantermos o Hospital Espanhol definitivamente aberto, respeitando os direitos dos trabalhadores.O povo que não preserva o passado, não vive o presente e jamais poderá construir um grande futuro.

CLARINDO SILVA

Escritor, jornalista e poeta.

Compartilhe agora: