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Como o novo coronavírus age no organismo humano

Foto: Reprodução

A infecção pelo novo coronavírus só é possível porque ele carrega estruturas que são programadas para se conectarem com as proteínas das células humanas, penetrando-as e as destruindo de dentro para fora

A população mundial enfrenta um problema inédito e de proporções gigantescas: uma pandemia que já fez mais de 200 mil vítimas fatais em alguns meses. O responsável por essa catástrofe é o novo coronavírus, causador da doença Covid-19. Tudo é novo para nós e de grande interesse, pois estamos falando de vida e morte. Não é raro que nessa situação muitas informações saiam desencontradas e aqueles ansiosos por se inteirar sobre o assunto acabem por ficar cada vez mais confusos.

Nesse sentido, a fim de dirimir algumas dúvidas que certamente ainda existem a respeito da nova doença, o farmacêutico, bioquímico e pós-doutor em Microbiologia, Alessandro Silveira, se dispõe a tratar sobre o tema. O assunto específico a respeito do qual o microbiologista se debruçará a seguir é como a Covid-19 age no organismo humano.

Silveira explica inicialmente de que maneira o vírus consegue penetrar na célula e invadir o organismo humano. Segundo o bioquímico, tudo começa com uma pessoa já infectada pelo novo coronavírus, que tosse, espirra ou mesmo fala, despejando no ambiente aerossóis, que contêm uma grande quantidade de partículas virais. “Estas ficam no ar e podem ser inaladas ao entrar em contato com a mucosa respiratória de uma pessoa que não tem a Covid-19. Uma vez nesse local, o vírus se liga às células saudáveis e está apto a causar a infecção”, explica.

“Para conseguir multiplicar-se, desenvolver-se, em suma, viver, o vírus necessita estar dentro de uma célula viva. De outra forma, ele morre”, informa Silveira. A infecção pelo novo coronavírus só é possível, porque ele carrega em sua camada externa estruturas, denominadas glicoproteínas S. De acordo com o bioquímico, essa camada externa é tal qual um envelope, cujo destinatário são as proteínas receptoras da superfície das células humanas. Estão ambas, por suas estruturas, destinadas a se conectarem. O vírus, por sua natureza, destrói as células saudáveis.

Dentro da célula, o vírus se torna responsável pelas infecções, que, por sua vez, levam ao desenvolvimento da doença. Um dos principais órgãos em que o novo coronavírus pode se alojar e causar estragos são os pulmões, acarretando uma forma mais grave da Covid-19. Conforme Silveira, são mais suscetíveis a ter os pulmões severamente comprometidos pessoas com doenças crônicas, como asma, diabetes, cardiopatias, e idosos.

“A infecção pulmonar ocorre especificamente nos alvéolos e no interstício pulmonar, podendo levar a um quadro de hipóxia ou hipoventilação, com baixa concentração de oxigênio”, destaca o pós-doutor em Microbiologia. Silveira explica que é no alvéolo onde ocorrem as trocas gasosas (entrada de oxigênio e eliminação do gás carbônico). “Com um processo inflamatório, uma lesão nessa região, a troca fica prejudicada e, dessa forma, o paciente pode desenvolver um quadro em que tenha extrema dificuldade para respirar”, diz.

Em razão disso, a preocupação dos gestores públicos de saúde de todo o mundo para que as pessoas respeitem as regras de isolamento. Conforme o bioquímico, na medida em que a doença avança, os pacientes necessitam de respiradores artificiais e cuidados mais intensivos de saúde. “Se muitas pessoas se contaminarem de uma só vez, os hospitais ficarão lotados e os leitos e equipamentos disponíveis não serão suficientes para atender todos que apresentarem o agravamento da Covid-19, caracterizado pela infecção pulmonar”, afirma.

Não apenas os pulmões podem sofrer com a ação do novo coronavírus. Segundo o pós-doutor em Microbiologia, o vírus é capaz de se espalhar internamente por todo o corpo. “Ao começar a primeira infecção, o vírus entra na corrente sanguínea, em um processo que chamamos viremia. A partir daí, ele pode atingir diversos órgãos”, relata. É sabido que o micro-organismo é capaz de causar lesões, principalmente, no coração, rins e intestino.

Como se trata de uma infeção muito recente, o pós-doutor em Microbiologia destaca ser prematuro afirmar algo sobre o grau de extensão de dano nesses órgãos. “Precisamos esperar mais tempo, avaliar os resultados das autópsias dos pacientes que faleceram por infecção pelo novo coronavírus, para dizer de modo mais criterioso qual foi o grau da lesão, se é que houve, nesses órgãos”, enfatiza.

Obviamente, a infecção não ataca o corpo sem que ele reaja tentando se proteger. De acordo com Silveira, assim que há a penetração do vírus nas células, ativa-se a resposta do sistema imune, que defende o organismo através de uma inflamação. “Nesse momento, as células migram para o local da infecção e partem para destruir o agente infeccioso”, relata. Quando o vírus penetra a célula infectada, o sistema imune não tem mais acesso a esse micro-organismo, por isso a estratégia da defesa é destruir a célula infectada para posteriormente eliminar as partículas virais.

Outra importante função do sistema imune é a produção de anticorpos, cujo intuito é neutralizar o vírus. Como explica o pós-doutor em Microbiologia, anticorpos são proteínas, que, no caso do Covid-19, ligam-se às glicoproteínas S do vírus, fazendo com que o micro-organismo patogênico não consiga mais penetrar nas células e seja rapidamente destruído.

Silveira reitera que a Covid-19 é uma doença muito recente, ocasionada por um vírus que circula há pouco tempo no mundo, e que por isso ainda é difícil entender corretamente o seu funcionamento. Segundo o bioquímico, é sabido que pessoas com doenças crônicas e com mais de 60 anos são as que estão mais sujeitas a desenvolver formas graves da doença, porém, vários óbitos fora desse grupo já foram descritos no Brasil. Assim, é preciso tempo para que três pontos sejam efetuados: estudar melhor as características do vírus e sua patogenia ( a forma como causa a doença); compreender de maneira mais adequada a atuação dos medicamentos que estão sendo utilizados para combater a doença; e desenvolver uma vacina que seja eficaz contra o vírus.

Concomitantemente, conforme Silveira, grandes esforços por parte de todos aqueles envolvidos na esfera da saúde devem se voltar ao tratamento dos pacientes, principalmente daqueles acometidos pelas formas mais graves da doença.

Sobre Dr. Alessandro Silveira

Graduado em Farmácia-Bioquímica pela Universidade Federal de Santa Maria (UFSM), doutor em Ciência Médicas pela Universidade Federal de Ciências da Saúde de Porto Alegre (UFCSPA) e pós-doutor em Análises Clínicas, pela Universidade Federal de Santa Catarina (UFSC).

Atualmente é professor titular de Microbiologia Clínica para os cursos de Medicina, Farmácia e Biomedicina da Fundação Universidade Regional de Blumenau (FURB), em Santa Catarina. Desempenha, ainda pela FURB, a função de coordenador do curso de Especialização em Bacteriologia Clínica. Atua também como coordenador de Microbiologia Clínica da Sociedade Brasileira de Microbiologia (SBM), gestor da Microbiologia do Ghanem Laboratório de Joinville e consultor de Microbiologia Clínica e Molecular na Dasa.

Suas linhas de pesquisa incluem a análise metagemônica do microbioma intestinal e a detecção da diminuição da susceptibilidade de Staphylococcus aureus à vancomicina na Dasa.

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