Início Destaques

Americanas: Da glória ao escândalo de mais de R$ 20 bilhões

Foto: Flávya Pereira/Money Times

O grupo Americanas, um dos gigantes do varejo brasileiro, chocou o país em janeiro do ano passado ao anunciar “inconsistências contábeis” de mais de R$ 20 bilhões. Esse valor, até então desconhecido por investidores, fornecedores, credores, trabalhadores e pela sociedade brasileira, revelou a extensão dos problemas financeiros ocultos da empresa.

Descoberta das Inconsistências Contábeis

Inicialmente, uma análise detalhada da área contábil da empresa revelou operações de financiamentos de compras que somavam cerca de R$ 20 bilhões. Essas dívidas não estavam “adequadamente refletidas na conta fornecedores” nas demonstrações financeiras da companhia, criando uma imagem distorcida da saúde financeira do Grupo Americanas. O anúncio das inconsistências contábeis foi seguido de um pedido de recuperação judicial, uma medida para proteger a empresa das cobranças de dívidas imediatas e preservar seus negócios e patrimônios.

Fraudes Contábeis e Manipulação de Dados

Meses após o anúncio inicial, a situação se agravou com a revelação de que as inconsistências eram, na verdade, fruto de fraudes. Uma auditoria independente identificou indícios de manipulação de dados contábeis por parte da antiga diretoria, elevando o valor das inconsistências para R$ 25,3 bilhões.

Foram descobertos diversos contratos de verbas de propaganda cooperada (VPC) artificialmente criados para melhorar os resultados operacionais da empresa. Esses contratos, que deveriam representar incentivos financeiros de grandes fabricantes para a promoção de seus produtos, não correspondiam a serviços efetivamente contratados. Em outras palavras, bilhões de reais em VPC fictícias foram lançados nos balanços contábeis, distorcendo a real situação financeira da companhia.

Operações de Risco Sacado e Ocultação de Dívidas

Além das fraudes relacionadas às VPC, foram identificadas operações de risco sacado, que envolviam a antecipação de pagamentos aos fornecedores por meio de empréstimos junto a bancos. Essas operações, que acarretavam o pagamento de juros, não foram devidamente lançadas na contabilidade da empresa, ocultando bilhões em dívidas.

A antiga diretoria do Grupo Americanas contratou uma série de financiamentos sem as devidas aprovações societárias, inadequadamente contabilizados na conta fornecedores. Essas práticas criaram uma falsa impressão de liquidez e solvência, mascarando a verdadeira situação financeira da companhia.

Investigação e Consequências Legais

Ex-diretores da empresa estão sob investigação da Polícia Federal (PF). Dois deles, que estavam no exterior, chegaram a ter prisão preventiva decretada, mas os mandados foram convertidos em medidas cautelares de retenção, impedindo que deixassem o país. O Ministério Público Federal (MPF) conduz a investigação sob sigilo, buscando esclarecer todas as nuances das fraudes e identificar os responsáveis.

O relatório final da Comissão Parlamentar de Inquérito (CPI) instalada na Câmara dos Deputados para apurar a situação da empresa, divulgado em setembro de 2023, indicou que a dívida do Grupo Americanas com seus credores, já consideradas as inconsistências contábeis, superava os R$ 42 bilhões.

A História do Grupo Americanas

“Nada além de 2 mil réis.” Era assim que a primeira loja das Americanas se apresentava aos consumidores de Niterói, na região metropolitana do Rio de Janeiro, em 1929. Fundada por quatro empresários americanos, um austríaco e um brasileiro, a loja começou como uma “five and ten cents store” e rapidamente expandiu seus negócios.

Na década de 40, a Americanas se tornou uma sociedade anônima e abriu seu capital na Bolsa de Valores. No início dos anos 2000, lançou-se na internet e iniciou aquisições estratégicas, como Shoptime, Ingresso.com e Submarino. Atualmente, o Grupo Americanas combina lojas digitais, pontos de venda físicos, franquias, fintechs e até varejo de hortifrúti.

Transformações e Estratégia Atual

Recentemente, o Grupo Americanas anunciou o fim dos sites de venda Shoptime e Submarino, em uma tentativa de alinhar-se a uma nova estratégia de negócios que prioriza operações mais ágeis, rentáveis e eficientes. A empresa busca oferecer uma experiência de compra ainda mais completa aos seus consumidores, mesmo em meio aos desafios financeiros e legais que enfrenta.

O Futuro do Grupo Americanas

O futuro do Grupo Americanas depende da sua capacidade de reestruturar suas finanças, reconquistar a confiança dos investidores e credores, e implementar uma governança corporativa mais rigorosa para evitar novos escândalos. A recuperação judicial é um passo crucial nesse processo, oferecendo uma oportunidade para a empresa reorganizar suas operações e sanar suas dívidas.

Por fim, a trajetória do Grupo Americanas serve como um alerta para a importância da transparência e da responsabilidade na gestão corporativa. As fraudes contábeis e a manipulação de dados financeiros podem ter consequências devastadoras, não apenas para a empresa envolvida, mas também para seus acionistas, fornecedores, credores e a economia como um todo.

Compartilhe agora: