A Justiça decretou, nesta quarta-feira (18), a prisão preventiva de dois suspeitos acusados de envolvimento no esquema de desvio de doações feitas a pessoas em situação de vulnerabilidade através do telejornal Balanço Geral, da Record Bahia/TV Itapoan. A decisão foi assinada pelo juiz Cidval Santos Sousa Filho, da Vara dos Feitos Relativos a Delitos de Organização Criminosa de Salvador.
Os suspeitos, Carlos Eduardo do Sacramento Marques Santiago de Jesus e Thais Pacheco da Costa, são apontados como operadores do esquema. Segundo o Ministério Público da Bahia (MP-BA), os líderes do grupo seriam o apresentador Marcelo Castro e o editor-chefe Jamerson Oliveira, que, apesar das acusações, não tiveram a prisão decretada.
Entenda o caso
O esquema, conhecido como “Golpe do PIX”, foi descoberto em março de 2023 e envolvia a apropriação de doações feitas por telespectadores para ajudar pessoas em situações de extrema necessidade. As doações eram realizadas por meio de chaves PIX exibidas no programa, mas a maior parte dos valores arrecadados era desviada.
De acordo com a investigação, o grupo criminoso desviou R$ 407.143,78 dos R$ 543.089,66 arrecadados — cerca de 75% do total. O MP-BA denunciou 12 pessoas pelos crimes de associação criminosa, apropriação indébita e lavagem de dinheiro. Entre os denunciados estão Marcelo Castro, Jamerson Oliveira e Lucas Costa Santos, acusados de estarem envolvidos em todos os casos identificados.
Como funcionava o esquema
O telejornal relatava histórias de pessoas em situação de vulnerabilidade e pedia doações ao público. Durante as transmissões, o apresentador Marcelo Castro divulgava chaves PIX que, segundo o MP-BA, pertenciam a membros do esquema e não às vítimas. Jamerson Oliveira, como editor-chefe, autorizava a exibição dessas chaves, ciente das irregularidades.
As investigações revelaram que o grupo usava diversas contas bancárias para receber as doações, alternando entre contas de nove dos denunciados. Essa dinâmica foi descrita como hierárquica e organizada, com divisão clara de tarefas entre os membros.
Descoberta e investigação
A fraude veio à tona quando um jogador de futebol, desconfiado de uma divergência entre as contas fornecidas para doação, entrou em contato direto com a família de uma das vítimas. Após confirmar a irregularidade, ele alertou a emissora, que iniciou uma investigação interna e acionou a polícia.
A Record Bahia demitiu os jornalistas envolvidos e apresentou as provas às autoridades, que aprofundaram as investigações. O inquérito policial concluiu que apenas 25% dos valores arrecadados foram repassados às vítimas.
Defesa e próximos passos
Os advogados de Marcelo Castro e Jamerson Oliveira alegam que as acusações são precipitadas e que as provas colhidas ainda não foram analisadas em juízo. A defesa afirma que continuará argumentando pela inocência dos seus clientes.
O caso segue em tramitação na Justiça, com a denúncia aceita pela Vara dos Feitos Relativos a Delitos Praticados por Organização Criminosa de Salvador. Os suspeitos Carlos Eduardo e Thais permanecem sob custódia após a decretação da prisão preventiva, motivada pela gravidade dos fatos e pelo risco de fuga.
Impacto e indignação
O “Golpe do PIX” gerou grande repercussão na sociedade, especialmente por envolver doações destinadas a pessoas em extrema vulnerabilidade. A situação reforça a importância de maior fiscalização e transparência em iniciativas solidárias, além de destacar o papel do jornalismo ético no combate a irregularidades.