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Quintal do Raso da Catarina vai para as telas do cinema

Foto: Divulgação

Um recanto sertanejo cravado no Campo Grande, ao lado do emblemático e imponente Palácio da Aclamação, se tornou um dos mais ativos centros de resistência e sobrevivência cultural da Salvador dos anos 80, em contraponto a estética anticultural do regime militar. O Quintal do Raso da Catarina abriu as suas portas em 1979, na área externa da casa de estilo colonial que ainda hoje abriga a sede da Associação dos Engenheiros Agrônomos, com a proposta de ser um bar alternativo, propositadamente ao ar livre, convergente com a ansiedade de libertação da geração que seria a sua clientela. Durante os anos 80, artistas, jornalistas, estudantes, intelectuais, profissionais liberais, políticos (sobretudo de esquerda), se reuniam nas mesas espalhadas pelo Quintal.

“Falava-se de tudo, música, literatura, cinema, esporte, política e até mesmo coisa alguma. Podia-se debater Sócrates, Marx e Nietzsche ou simplesmente jogar conversa fora. O que importava era que ali a liberdade era plena. Bastávamos descer as escadas para o Quintal e a vida se transformava”, recorda o ator e cineasta Dody Só, roteirista e diretor do documentário “O Senhor do Raso da Catarina”, com lançamento em 15 de junho, às 19h00, no Cine Glauber Rocha, na Praça Castro Alves.

O documentário traz a história do Quintal do Raso da Catarina, tendo como referência o seu fundador, Antônio Franco Barretto, que até 1993 foi o proprietário do bar mais libertário de Salvador. É um relato que se confunde com as angústias, expectativas, sonhos e frustrações de uma geração e, ao mesmo tempo, registra uma parte expressiva da história contemporânea da Bahia.

“Franco é personagem dessa geração que ansiava pela democracia e, ao mesmo tempo, queria viver os prazeres da juventude. Tinha-se a responsabilidade imposta por uma conjuntura opressora, mas o Quintal do Raso era também refúgio para a boêmia, da cerveja, cachaça e a boa música”, define Dody Só,
O documentário registra também depoimentos de frequentadores do Quintal do Raso: Bule-Bule, Rui Espinheira, Wilson Aragão, Lídice da Mata são alguns dos entrevistados com relatos de acontecimentos importantes e sobre personagens que marcaram a sua época áurea, como o antológico garçom Quitério, que faleceu em 2021.

Formado em cinema pela FTC, Dody Só participou como ator, entre outras produções, do filme Guerra de Canudos (1996), de Sérgio Rezende, interpretando o lendário Pajeú (comandante militar de Antônio Conselheiro), e como Djalminha, na novela Segundo Sol, da Globo, escrita por José Emanuel Carneiro. Dirigiu diversos curtas-metragens, incluindo o documentário sobre a vida do engenheiro baiano Teodoro Sampaio.

O fato de ter sido também frequentador assíduo permitiu a Dody Só, uma visão aprofundada da simbologia do Quintal e ele foi em busca das raízes que inspiraram o seu idealizador. Seguiu para Paulo Afonso, a “capital” do Raso da Catarina, terra natal de Franco e, em sua companhia, mergulhou no cenário reproduzido no bar em Salvador.

“Precisava registrar esse reencontro. Filmamos em Paulo Afonso, Piranhas e Canindé do São Francisco, para melhor traduzir essa rica inspiração sertaneja, reproduzida não apenas no cardápio, mas no sotaque do ambiente, na extensão infinita desses sertões libertários tão bem descritos por Euclides da Cunha”, ressalta o autor de O Senhor do Raso da Catarina.

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