Início Cultura Organização de navio-livraria pede desculpas após post sobre ‘demônios’ em Salvador

Organização de navio-livraria pede desculpas após post sobre ‘demônios’ em Salvador

A organização de origem cristã Good Books For All (GBA), responsável pelo navio que trouxe a maior livraria-flutuante para Salvador, emitiu comunicado em que pediu desculpas pela publicação em que dizia que a “cidade era conhecida por adorar espíritos e demônios”.

Em um comunicado publicado nas redes sociais, o grupo disse que a publicação foi feita na Alemanha, no dia 22 de outubro, mas que o texto não retrata a visão dos integrantes do navio Logos Hope nem da organização.

“Salientamos que a postagem não foi oficialmente sancionada pela OM no Brasil, tão pouco pelo Logos Hope e não reflete, de nenhuma maneira, nossos princípios e valores que são a educação, a liberdade religiosa, o respeito, a tolerância e o amor ao próximo”, diz o texto.

O pedido de desculpas dividiu os moradores. Alguns mantiveram a crítica após a postagem de cunho discriminatório que pedia para os seguidores orarem por “proteção, força e sabedoria para os tripulantes durante a permanência do navio em Salvador”. “Visita cancelada. Que os espíritos de luz e todos os orixás abençoem vocês. Só se pronunciaram depois que o MP pediu retratação”, escreveu uma mulher no Facebook. “Se não reflete a visão do navio Logos Hope nem da OM no Brasil, reflete a de quem? Porque essa mensagem não surgiu por abiogênese, alguém foi lá e digitou!”, escreveu outro.

Já outros, defenderam a organização. “O Amor e o Respeito prevalecem em cada escolha religiosa e na cultura no planeta azul. Visitei e fui bem recepcionada. Com a força dos orixás”, escreveu uma outra pessoa na página do Facebook do navio.

‘Espíritos e demônios’
A publicação que pedia proteção à equipe do navio gerou desconforto e críticas à organização da Logos, que na abertura da livraria aqui em Salvador, nesta sexta (25), informou que ainda não sabia quem havia feito a postagem. “Ainda estamos identificando quem foi a pessoa que falhou com esse tipo de informação”, explicou o Márcio Lugão, diretor da ONG Operação Mobilização (OM), que está por trás da Logos Hopes e tem como objetivo levar conhecimento ao mundo através de estudos bíblicos, da arte, do trabalho e desenvolvimento.

Post que gerou polêmica (Foto: Reprodução)
“A gente leva respeito, companheirismo, ajuda humanitária, social, então é possível que tenha havido falhas como em qualquer lugar e profissão, mas a boa notícia para a imprensa e população de Salvador é que esse problema já foi solucionado’, afirmou.

Em vídeo, a promotora de Justiça Lívia Sant’Ana, afirmou que o Ministério Público do Estado da Bahia tomou conhecimento, através da Promotoria de Justiça de Combate ao Racismo e à Intolerância Religiosa, “de mensagem de cunho discriminatório emitido pela Logos Hope Livraria Flutuante”.

“Já foi instaurado o devido procedimento e a organização do navio será notificada com recomendação para retirada da mensagem de todas as redes sociais, bem como para prestar esclarecimentos no prazo de três dias”, afirmou a promotora.

CORREIO visita a maior livraria flutuante do mundo

Além disso, foi enviada uma cópia do procedimento para “adoção das medidas cabíveis no que se refere ao direito do consumidor, uma vez que, pelo que foi verificado no local, trata-se de acervo de livros evangélicos, informação que não foi divulgada no material publicitário”, acrescenta.

CORREIO visitou a livraria flutuante (Marina Silva/CORREIO)

A Ordem dos Advogados do Brasil na Bahia (OAB-BA) divulgou nota de repúdio. Declarar que a tripulação estaria submetida a algum risco ao chegar em uma cidade “conhecida pela crença do povo em espíritos e demônios” ultrapassa os limites da liberdade de expressão e liberdade religiosa, diz a presidente da Comissão Especial de Combate à Intolerância Religiosa do órgão, Maíra Vida.

“Nos é exigido um esforço transdisciplinar de superação das violências. O desafio é garantir que o enfrentamento jurídico seja célere, adequado e, ainda assim, transformador”, afirma.

Leia o comunicado na íntegra

Lamentamos profundamento o ocorrido com a nota emitida na Alemanha no dia 22 de outubro de 2019 em nome da organização, como sendo a visão do navio Logos Hope e da OM no Brasil.

Salientamos que a postagem não foi oficialmente sancionada pela OM no Brasil, tão pouco pelo Logos Hope e não reflete, de nenhuma maneira, nossos princípios e valores que são a educação, a liberdade religiosa, o respeito, a tolerância e o amor ao próximo.

Nós vivemos diariamente e alegremente estes valores. São para nós muito caros. Acreditamos que o povo baiano reflete estes valores e são um exemplo de tolerância e multiculturalismo. Temos enorme felicidade de estar aqui com vocês, vivendo esta experiência, compartilhando e aprendendo.

Nossos navios operam por quase 50 anos e já visitamos mais de 150 países, inclusive países que professam uma variedade de religiões e jamais experimentamos uma situação similar. Nossa tripulação é um conjunto de mais de 60 nacionalidades diferentes, o que demonstra claramente nossos valores.

 

Lamentamos profundamente o ocorrido e reiteramos nossos valores, sobretudo o respeito e a tolerância.

“A gente leva respeito, companheirismo, ajuda humanitária, social, então é possível que tenha havido falhas como em qualquer lugar e profissão, mas a boa notícia para a imprensa e população de Salvador é que esse problema já foi solucionado’, afirmou.

Em vídeo, a promotora de Justiça Lívia Sant’Ana, afirmou que o Ministério Público do Estado da Bahia tomou conhecimento, através da Promotoria de Justiça de Combate ao Racismo e à Intolerância Religiosa, “de mensagem de cunho discriminatório emitido pela Logos Hope Livraria Flutuante”.

“Já foi instaurado o devido procedimento e a organização do navio será notificada com recomendação para retirada da mensagem de todas as redes sociais, bem como para prestar esclarecimentos no prazo de três dias”, afirmou a promotora.

Além disso, foi enviada uma cópia do procedimento para “adoção das medidas cabíveis no que se refere ao direito do consumidor, uma vez que, pelo que foi verificado no local, trata-se de acervo de livros evangélicos, informação que não foi divulgada no material publicitário”, acrescenta.

CORREIO visitou a livraria flutuante (Marina Silva/CORREIO)

A Ordem dos Advogados do Brasil na Bahia (OAB-BA) divulgou nota de repúdio. Declarar que a tripulação estaria submetida a algum risco ao chegar em uma cidade “conhecida pela crença do povo em espíritos e demônios” ultrapassa os limites da liberdade de expressão e liberdade religiosa, diz a presidente da Comissão Especial de Combate à Intolerância Religiosa do órgão, Maíra Vida.

“Nos é exigido um esforço transdisciplinar de superação das violências. O desafio é garantir que o enfrentamento jurídico seja célere, adequado e, ainda assim, transformador”, afirma.

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