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Comoção: Corpo de Gal Costa é enterrado em cemitério de São Paulo

Comoção: Corpo de Gal Costa é enterrado em cemitério de São Paulo - Foto: Reprodução / Globo News

No velório de uma das maiores cantoras da música brasileira, o silêncio imperou. Era como se, além de Gal Costa, a própria voz tivesse morrido. A quietude sepulcral na Assembleia Legislativa de São Paulo (Alesp), local onde ocorreu a cerimônia aberta ao público na sexta-feira (11), só era interrompida por suspiros, cochichos e berros de bolsonaristas que faziam uma manifestação pedindo “intervenção militar” no quartel que fica ao lado.

Emocionados, amigos, fãs e familiares recorriam a outras formas de linguagem para homenagear a baiana que morreu na última quarta (9). Era com um olhar, como o que Lúcia Veríssimo, ex-companheira da cantora, direcionou para o caixão por longos minutos, como se não acreditasse no que presenciava; ou em cartazes, capas de LP e fotos carregadas por fãs devotos.

Foto: Gabriel Moura / CB

Eram tantas coroas de flores que quando uma nova chegava, os policiais quebravam a cabeça para encaixá-la em algum lugar. Dentre os remetentes, órgãos públicos, como a própria Alesp, e personalidades, como Boninho, Silvio Santos, Angélica, Luciano Huck, Djavan e Jorge Ben Jor.

Entre os famosos que foram pessoalmente prestar homenagem, nomes como a futura primeira-dama, Janja Lula da Silva, e Serginho Groisman, que passaram um bom tempo conversando com Wilma Petrillo, viúva de Gal. Representando a família Gil, Bela passou pela cerimônia, assim como Nizan Guanaes e Zélia Duncan. O humorista Marquito, conhecido por suas participações no Programa do Ratinho, ressaltou a perenidade da obra de Gal.

“Muito emocionante essa despedida. Eu que sempre usei músicas dela na televisão para fazer humor. E as músicas dela têm história, do Brasil, de tudo. Ela é inesquecível, assim como outras artistas como Elis Regina e outras que já foram. Gal Costa é uma grande artista que sempre estará em nossos corações”, homenageou.


Por lá também estava o único filho da cantora, Gabriel Costa Penna Burgos, de 17 anos. Ele permaneceu afastado do caixão durante a maior parte do velório, mas nos intervalos entre as lágrimas que caiam e afagos que recebia, encontrava tempo para olhar e se despedir do corpo da mãe.

Gal sem fronteiras
As 48 horas entre o anúncio da morte de Gal e seu velório possibilitaram uma maior variedade de pessoas entre os presentes. Fãs e amigos, como Alan Brandão, irmão de santo da cantora, que pegou um avião na sexta de manhã para encontrar-se fisicamente pela última vez com o corpo da estrela.

“Todos os fãs são amigos da Gal porque ela não tinha estrelismos. Ela recebia a todos com afeto, doçura e carinho típicos de uma baiana nascida em Salvador. Aquele sorriso, aquela gargalhada, são a expressão mais incrível e precisa de Gal Costa, além da voz que a gente ouve e identifica, independente do disco ou do ano. É único, sincero e verdadeiro”, definiu.

Filha de Omolu, ela tinha o Candomblé como religião e frequentava o Terreiro do Gantois, onde era apenas Maria da Graça. “Gal Costa é para o mundo. Dentro de casa ela era mais uma entre os irmãos. Somos todos filhos da mesma mãe, que trata todos do mesmo jeito. Sem grau de importância”, contou Alan.

Alan pegou avião de Salvador até São Paulo para se despedir de Gal (Foto: Gabriel Moura / CORREIO)
De mais longe ainda veio Franklin Tavares, que percorreu os três mil quilômetros que separam Fortaleza de São Paulo para se juntar à sua musa. Para a ocasião, uma indumentária baseada em Gal, com camisa, calça, máscara e sapatos estampados com discos da cantora.

“Eu vim porque queria acreditar que era de verdade. Quando a gente gosta, tem um apreço especial, o que os olhos não veem, o coração não sente. Mas desde criança eu sei que os deuses não morrem, por isso Gal será eterna. Enquanto eu estiver respirando, o nome dela não será esquecido”, prometeu o fã vestido de Gal da cabeça aos pés.

“Sempre digo que quando Deus criou a voz, chamou Gal e deu a ela. Em seguida, chamou os anjos, que começaram a aplaudir. Gal não é apenas uma diva, é uma divindade”, diz Tavares.

Outra homenagem destacada foi a do autônomo Antônio da Paz, natural de Ubatã, no Sul da Bahia. Ele chegou à Alesp às 6h da manhã na expectativa de ser o primeiro da fila, e conseguiu. Percebeu, apenas instantes antes da abertura dos portões, que uma mera visita não seria o bastante. Correu até a papelaria mais próxima, onde após algumas impressões e bastante hidrocor, preparou um cartaz ressaltando, entre outros dizeres, que a Bahia chora.

“Eu fiz essa homenagem para ela porque uma cantora assim a gente não pode esquecer. Transmite alegria, paz para nós. No Brasil, ela é imensa”, disse antes de cantarolar um trecho de Festa do Interior, sua música preferida dentre as mais de mil registradas pela artista.

Baiano, Antônio da Paz só conseguiu prestigiar um único show de Gal: em Itabuna (Foto: Gabriel Moura / CORREIO)
Entre as privilegiadas por compartilhar a naturalidade com Gal também estava Somália Maria Correia, integrante do Grupo Afro Babalotim, que inclui parte do repertório na maioria dos espetáculos.

“Uma baiana ousada que saiu de casa aos 19 anos. E fez o que fez para nós mulheres de todos os tipos, negra, oriental, estrangeira. Onde ia, era sucesso. Um exemplo de vida, de qualidade. Hoje se fala muito de empoderamento, mas o importante é fazer igual Gal Costa. Lutar por um ideal. Ela era democrata, ia para as ruas, mexia com política. Eu queria que tivessem 30 Gal em cada esquina, só assim o Brasil vai para frente”, projeta Somália.

Enterro em São Paulo dividiu opiniões
O velório encerrou às 15h, quando o caixão deixou o salão da Alesp e partiu para o Cemitério da Consolação, um dos mais tradicionais de São Paulo, onde foi enterrado às 16h em cerimônia restrita aos amigos e parentes.

O enterro aconteceu em São Paulo por decisão da família – ela morava na cidade há alguns anos. No entanto, fãs e pessoas próximas à cantora reclamaram do local, alegando que ela deveria repousar em descanso eterno em Salvador, onde nasceu.

“É como se Caetano e Bethânia fossem enterrados em outro lugar que não seja Santo Amaro, ou Gil longe de Salvador. Raul Seixas viveu parte significativa da vida fora da Bahia, mas foi enterrado em sua terra natal, por exemplo”, reclamou um amigo da cantora que não quis se identificar.

Outro caso famoso de baiano enterrado longe de sua terra é o de João Gilberto. O corpo do criador da Bossa Nova está em um cemitério de Niterói, no Rio de Janeiro.

Fonte: CB

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